Josmar Antonio Martins atuou no Grupo de Tetatro da Cidade (GTC), de Santo André na década de 1970. |
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Depoimento de JOSMAR MARTINS, 64 anos.
IMES – Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 07 de julho de 2005.
Entrevistadores: Herom Vargas e Tiago Magnani.
Pergunta:
Comece falando a data e o local de seu nascimento.
Resposta:
Nasci em 18 de setembro de 1940, na Mooca, em São Paulo.
Pergunta:
Fale um pouco sobre seus pais, seus irmãos, sua infância.
Pergunta:
Da Mooca nós viemos morar na Vila Alpina, também em São Paulo, e eu tinha menos de um ano. Meu pai era operário e minha mãe dona de casa. Tive só mais uma irmã. Minha infância foi na Vila Alpina, estudando nas escolas de lá, até a adolescência, quando comecei a conhecer São Caetano, que ficava próximo, 15, 20 minutos a pé. Naquele tempo era muito comum andar a pé, quase não se usava condução, e tudo era mais ou menos próximo.
Pergunta:
Seu pai era operário de que ramo?
Resposta:
Siderúrgica. Era empregado braçal.
Pergunta:
Era uma vida simples?
Resposta:
Bem simples. Por sorte, no lugar onde morávamos tinha um terreno bem grande onde eu tinha como brincar, com árvores, fazia cabana, brincava de Tarzan. Sempre tinha um colega vizinho que aproveitava aquele espaço. Também era comum brincar na rua. Não havia tanto perigo e na Vila Alpina quando passava um caminhão era uma farra para a molecada. A gente ia escutar o ruído do motor.
Pergunta:
Como eram as ruas lá?
Resposta:
De terra. Quando muito jogavam um cascalho, mas na segunda chuva ia embora com a enxurrada. Engraçado que a rua onde eu morava se chamava Avenida Industrial. Não sei por que se chamava avenida, porque era terra. A região era gostosa de se morar.
Pergunta:
Você tem lembranças do final da Segunda Guerra, em 1945?
Resposta:
Não são lembranças do final. Eu era moleque, não lembro com que idade, havia um livro, não lembro quem foi que descobriu esse livro, um almanaque de fotografias dos campos de concentração, e que nós tínhamos de ver dos mais velhos, porque eles não podiam saber que a gente estava vendo aquele horror, mesmo porque havia uma certa reserva ao se falar dos campos de concentração, do que faziam os nazistas. A única coisa que me lembro é disso. Teve uma noite especial, talvez estava com seis anos, e houve uma história sobre um black-out, mas nada assim que lembrasse.
Pergunta:
E a escola? Você estudou no bairro?
Resposta:
No bairro. Era o Grupo Escolar Humberto de Campos e depois, para fazer a admissão e o ginásio, vim fazer no Instituto de Ensino de São Caetano, que foi quando comecei a conhecer São Caetano.
Pergunta:
Mudou para cá?
Resposta:
Não. Eu vinha para a aula e voltava para casa.
Pergunta:
Era fácil vir para cá?
Resposta:
Era uns 20 minutos para vir e outros tantos para voltar. Lógico que para voltar demorava umas três horas porque a gente ficava brincando em tudo quanto era canto. Ia sempre uma turminha que morava na região. Era muito comum andar.
Pergunta:
Você morou ali até quando?
Resposta:
Até me casar, em 1961, embora morasse lá para trocar de roupa. Adolescente, até a idade de casar.
Pergunta:
Nos anos 50 você ouvia muito rádio, televisão?
Resposta:
Quando surgiu a televisão, eu e mais dois ou três da turminha, íamos aos bares e lanchonetes em que tinha o aparelho de TV ligado. Era aquela festa, ver os desenhos animados. Mas em casa era rádio.
Pergunta:
Você se lembra dos programas de rádio?
Resposta:
O rádio ficava ligado praticamente o dia todo. Perto da hora do almoço eu ouvia um programa na Rádio Gazeta, de música italiana, música clássica. Na rádio onde começou o Sílvio Santos, aqueles programas humorísticos do Manoel da Nóbrega.
Pergunta:
Com o Golias?
Resposta:
Então, o Golias começou, a primeira aparição do Golias foi ao rádio, com o Carlos Alberto. A atuação de Adoniram Barbosa fazendo O Charutinho da Favela, era uma voz tremenda, era o cara da favela, o morador. E os programas mais ouvidos eram PRK30, Desafio aos Catedráticos, que eram perguntas enviadas aos catedráticos pelos ouvintes, até feitas pela platéia. Era muito instrutivo na ocasião. Novelas que surgiam, de domingo, sábado à noite. E não era, naquele tempo não havia essa frescura de dizer que homem não via, embora hoje assistam e falem que não, era meu pai, minha mãe, e ninguém conversava porque era a hora da rádio teatro. Era a distração que havia na ocasião.
Pergunta:
(Inaudível)
Resposta:
Só fui ver televisão na casa da minha noiva, que era do meu sogro. Eu fui ter condições de comprar uma televisão uns três anos depois de casado. Deve ter sido em 1964, 65, por aí.
Pergunta:
E depois que você se casou, veio para São Caetano?
Resposta:
Como minha noiva, minha esposa, era de São Caetano, como disse, freqüentava todos os eventos, bailes, festas de formatura, a escola, tudo em São Caetano, o namoro, e vim morar em São Caetano.
Pergunta:
O que tinha em São Caetano para o lazer?
Resposta:
Baile, cinema era muito comum. Durante a semana eu assistia, havia o Cine Urca, Max, depois o Cine Vitória, Cine Lido, na Rua Manoel Coelho, ficava nesses cinemas vendo as novidades. Ficava de sexta, sábado e domingo vendo o mesmo filme. A gente ia a um cinema e no outro dia ia a outro. Bailes de aniversário de amigos, ou bailes de formatura.
Pergunta:
Em São Paulo você ia ao cinema?
Resposta:
Muito raramente.
Pergunta:
E na Vila Alpina tinha?
Resposta:
Havia um pulgueiro chamado Cine Saturno que era um salãozinho, isso no tempo de infância.
Pergunta:
Nesse período você tinha algum hobby em casa?
Resposta:
Como eu ouvia muito rádio, eu comecei a me apaixonar pela música italiana, mas eu era um cara muito solitário. De vez em quando tinha algum colega. Por criação, não saía muito à rua, mesmo para brincar, mas brincava a maior parte do tempo sozinho. Então, eu ficava ligado no rádio ouvindo essas músicas e me interessei em cantar junto. Comecei a cantar. Não sabia se cantava bem, se tinha boa voz, mas eu gostava de cantar aquelas músicas. Fui descobrir que podia cantar, tempos depois, quando já freqüentava São Caetano, e um dia ouvi o coral da matriz. Naquele tempo, já na adolescência, nós tínhamos de ir à missa todos os domingos. Levava o jornal para o meu pai quando fosse para casa. Esse coral da igreja me fascinou e eu tentei chegar próximo para me informar como eu poderia participar do coral. O Maestro Roberto Manzo, era bem jovem naquele tempo, fez com que eu abrisse a voz e conseguisse cantar e passei a freqüentar o coral da igreja, cantando com os tenores. Não sei quanto tempo durou. A minha tendência era fazer solo, por isso não dava certo em coral. O padre vivia me dando tapa na boca porque o meu tom subia e ele falava que era coral. Eu estava levando muitos tapas na boca e não fui mais. Passei a cantar sozinho, nas festas dos amigos, do colégio, só por hobby também.
Pergunta:
Que tipo de músicas?
Resposta:
Músicas italianas. Depois comecei a aprender trechos de óperas, árias de ópera. Sem estudo nenhum, a conseqüência era de ficar rouco em pouco tempo. Até que conheci um maestro que me disse que naturalmente eu tinha uma empostação de um grande número de notas, mas tinham algumas que ele precisaria trabalhar. Mas de que jeito eu poderia pagar uma aula? Continuei cantando, por brincadeira, até enquanto tive fôlego, e agora não canto mais nada.
Pergunta:
Ia falar para o senhor dar uma palhinha.
Resposta:
Como a minha voz sempre teve um tom para o grave, metálica, era difícil convencer alguém, sem abrir a boca, de que eu cantava uma ária que era para tenor. Eu alcançava as notas de tenor. Depois, com a idade, com o cigarro e com a falta de estudo, a voz cai e agora, quando muito, se tivesse a condição de aprender uma área, de baixo, quem sabe de barítono no máximo.
Pergunta:
E a escola, você estudou até que ano?
Resposta:
No Instituto de Ensino, naquela época havia o famigerado latim. E o latim, a nossa língua mãe, para mim foi prostituta na ocasião, porque me fez reprovar dois anos a segunda série. E eu estava com 17 anos e não quis mais estudar e deixei o estudo de lado. Só fiquei trabalhando, namorando, me casei e depois de casado, dois anos depois, voltei, porque tinha saído do currículo o desgraçado do latim. E eu terminei o ginásio e fiquei só com o ginásio. Como eu trabalhava na indústria, além de ter entrado no teatro amador em 1962, na indústria fui me especializando no campo de administração de vendas, suprimentos e demais e continuei, até que fui para a TRW, isso em 1973, quando resolvi fazer faculdade. Eu comprei todos os livros necessários para fazer a preparação para o vestibular, eliminei todas as matérias, só que no vestibular não consegui a vaga. Eu queria fazer direito e, à noite, não tinha vaga, eu fiquei fora do número que poderia ser aprovado, e para fazer aula de manhã, eu teria de fazer um curso compatível com o trabalho que eu exercia, que não me interessava. Se eu tinha os meus funcionários, pessoas sob a minha responsabilidade, pessoas formadas em administração de empresas, que estavam começando, e não sabiam fazer o risco de uma estatística, como eu ia fazer um curso de administração de empresas? Para quê? Se eu tinha sob minhas ordens pessoas que tinham esse curso, para mim seria dinheiro jogado fora. De qualquer forma, como eu queria fazer direito e não podia fazer de manhã porque eles queriam que eu fizesse administração e eu não queria, parei nisso. Fiquei só no vestibular e não fiz faculdade.
Pergunta:
Você começou a trabalhar quando?
Resposta:
Com 17 anos, na Vemag; quando fiz 18 anos, fui para a Cofap em Santo André, em Capuava, onde eu conheci a Sônia Guedes e o Aníbal Guedes, que ainda não era casado com ela.
Pergunta:
Trabalhavam juntos?
Resposta:
Conheci através de um rapaz que trabalhava na firma que os conhecia e ia de vez em quando a um programa para calouros da Rádio Cultura, que era do Erlos Lellot. Eu fui uma vez com eles a esse programa, o Aníbal foi gongado. O maestro ficou muito bravo, porque ele se entusiasmou com a minha voz, pediram para voltar e eu voltei e lógico que nós não íamos todos juntos para que nós não competíssemos entre nós. Quando eu via que eles iam, eu não ia e assim por diante. E ganhei vários programas, participei de uma finalíssima e foi assim que conheci a Sônia Guedes, cantando, o Aníbal. Depois fui encontrá-los fazendo teatro, nada a ver com música. Naquela ocasião nem falavam em teatro, só em música.
Pergunta:
Como era o transporte da região de São Caetano para Santo André?
Resposta:
Tinha um ônibus que vinha de Santo André ou de Ribeirão Pires e ia até o Parque D. Pedro, passando pela Goiás. Quem precisava ir para lá e morava mais por aqui já pegava esse ônibus ou a gente pegava um ônibus que saía do Bairro Fundação e ia até a Praça Clóvis Beviláqua. E o trem.
Pergunta:
Você ia para Capuava de trem?
Resposta:
Ou de ônibus. Esse que ia até o Parque D. Pedro ia até para frente de Capuava. Sempre fui mais central.
Pergunta:
Quando você estava casado você começou a fazer teatro amador. Como foi a reação da sua família?
Resposta:
Eu comecei a fazer teatro amador porque sempre gostei de ver teatro, de saber como funcionava, como se fazia. Eu passei a freqüentar a ACASCS, onde havia um grupo de teatro.
Pergunta:
Era em São Caetano?
Resposta:
Era a Associação Cultural e Artística de São Caetano do Sul. E havia lá dois ou três grupos que faziam teatro amador. Eu fiquei junto com um deles, do Carlos Rigoni, assisti a todos os ensaios e comecei, daí para frente comecei a participar das peças. A minha família, no caso era minha mulher e meu filho, ainda criança. Ela achava ruim pra burro, porque eu ficava no meio das meninas. Naquele tempo eu tinha 22 anos e aquele ciúme. Durante os seis anos que fiz teatro amador era encrenca em cima de encrenca, discussões por ciúmes, até que passei a profissional e ela não achou ruim, porque eu era profissional, porque era um trabalho e não era por brincadeira ou diversão. Era a concepção que ela tinha. Mas foi a minha escola de teatro.
Pergunta:
Na concepção dela e também da sociedade?
Resposta:
Sim. Nesse tempo ainda se falava muito que ator era vagabundo e atriz era tudo prostituta.
Pergunta:
Você sentia isso?
Resposta:
Sentia. Quando eu fui fazer teatro profissional, já não havia mais. Isso foi em 1968. Lá por São Paulo o teatro estava vivo.
Pergunta:
Como eram as montagens?
Resposta:
No teatro amador é tudo na raça. Eu aprendi a montar cenário, pintar, arrumar objetos de cena, o que foi muito importante e interessante, não só eu, como todos os outros, a gente fazia tudo, e a gente ensaiava com apetrechos, fossem quais fossem. Para a estréia, geralmente eram três ou quatro espetáculos só, a gente arrumava o que era necessário, emprestado das casas das pessoas. Se precisasse de um sofá, pegava da casa de alguém. E a dificuldade para subir o prédio da ACASCS, que era no prédio Vitória, lá em cima. Era um salão de baile de um lado, o Clube Comercial, onde faziam os bailes e o Salão ACASCS e a gente se apresentava ali. Depois saímos de lá porque o grupo começou a crescer e começaram a ficar interessantes as montagens. Nós saímos de lá para formar o grupo chamado A Turma, mas sempre vinculado. Muitas peças que a gente estava para estrear, a gente as estreava no interior. O Carlos Vivani, a família dele era de Itapira, e a gente estreava lá, beneficente. Para o pessoal do interior era um espetáculo que tinha um bom nível, modéstia inclusa, e resultava num certo valor em dinheiro para alguma entidade de caridade.
Pergunta:
Quem era o diretor?
Resposta:
Tinha o Jaime da Costa Patrão, que dirigia uma peça com o elenco dele. Não quer dizer que quando ele fizesse isso, outro não poderia fazer outra também. O Carlos Vivani e Milton Andrade, que faziam com os outros grupos. Eu trabalhei com os três.
Pergunta:
Por que vocês saíram da ACASCS?
Resposta:
Se com a ACASCS a gente já fazia boas coisas, o Mário Dalmas era presidente na ocasião e dava todo apoio para a gente. Não lembro por que foi, se foi pelo fato de ele ter saído da presidência, ou alguma outra coisa que começou a dificultar nós fazermos teatro. Então, resolvemos formar nosso grupo, A Turma, cuja sede foi na Rua Baraldi, em um prédio de três andares e ali a gente era semiprofissional. Nós trouxemos grupos profissionais. Montamos uma semi-arena em São Caetano e o Plínio Marcos veio estrear Quando as Máquinas Param, que era com o Luiz Gustavo e a Miriam Melo. Depois outros espetáculos que não cabiam lá a gente levava para o Teatro Santos Dumont, que era o que tinha na ocasião. Vieram para cá Rodolfo Maia, Paulo Goulart, conforme a produção que ia ser feita, o que passou a ser comum, e os grupos de teatros vieram para São Caetano trazendo suas produções.
Pergunta:
Vocês montavam alguma coisa no Municipal?
Resposta:
Não. Quando nós fazíamos as nossas montagens, ou trazíamos grupos de outras regiões para fazer a turnê deles, era no Santos Dumont.
Pergunta:
A Prefeitura dava algum incentivo?
Resposta:
Não. Nós associados pagávamos aluguel. O que nós conseguimos da Prefeitura foi uma verba para nós comprarmos refletores. Depois disso tudo foi feito por nós.
Pergunta:
E como foi essa passagem do grupo semiprofissional para o profissional?
Resposta:
Eu um ano qualquer, já com mais de seis anos de teatro amador, nós tínhamos montado uma peça chamada A Raposa e as Uvas, do Guilherme Figueiredo. Um dos colegas veio com um anúncio de jornal, do Teatro Bela Vista, antes de se chamar Teatro Sérgio Cardoso, que era de administração da Nídia Lice. Ela precisava de atores para fazer os papéis de Chantós, de Melita e mais um ou dois personagens. Como tinha feito o Chantós e um colega meu tinha feito a Melita, fomos lá. Foi tão bom o trabalho que nós fizemos que ela, Nídia Lice, fez questão de conhecer o diretor, Carlos Vivani, porque quando cheguei para mostrar o que sabia, inclusive falei o texto de cor, ela quis conhecer o diretor porque falou que eu estava quase pronto, que o nosso nível era muito bom. Fizemos um ensaio e eu estreei como profissional.
Pergunta:
Em que teatro?
Resposta:
Nós ensaiamos no Teatro Bela Vista e estreamos a peça no Clube Pinheiros. Depois fomos viajar para Ribeirão Preto e sempre assim, com viagens pequenas, porque o teatro estava com o Paulo Autran em cartaz. Ela quis remontar a peça para levantar uma verba, mas durou pouco tempo.
Pergunta:
E como você foi para a televisão?
Resposta:
Nesse período de teatro amador, quase no final, tinha um colega que fazia teatro amador mas conhecia muita gente da televisão porque ele construía cenários e fazia pontas na televisão. Com ele fui uma vez à TV Excelsior, que era quem fazia o maior número de novelas na ocasião, ali na Vila Guilherme. Então, fui lá para conhecer e fui apresentado por esse colega ao encarregado de elenco como um ator. Ele ficou me observando de longe. Nesse primeiro dia ele já me ofereceu uma página de texto, de diálogo, na novela A Muralha, ainda em preto e branco. Ele perguntou se eu conseguia decorar o texto em um dia. Um sujeito que foi lá visitar a televisão para ver como era, esse mundo, ser convidado para fazer uma ponta, caramba! Se quisessem que eu dormisse lá, eu dormia. Eu fui, no dia seguinte. Foi minha primeira participação em televisão, essa ponta.
Pergunta:
Lembra o ano?
Resposta:
Não lembro. Sei que a cena era contracenando com Paulo Goulart e Maria Isabel. Depois dessa, fiquei conhecido por eles e fiz pontas nas novelas que apareciam. Contracenei com Francisco Cuoco, Regina Duarte, Rodolfo Maia, fui convidado para começar uma novela em que o Pelé..., foi a primeira que o Pelé fez, chamada Os Estranhos. Se não me engano ele fazia um repórter e eu fazia um dos estranhos. Mas como eu trabalhava, era um ET, com Rosamaria Murtinho, Cláudio Corrêa e Castro, Regina Duarte, Pelé e outros tantos, mas como eu trabalhava em indústria, eu não tinha condição de participar diariamente das gravações. Só comecei a novela e disse que não tinha condições de prosseguir.
Pergunta:
Continuou trabalhando e fazendo teatro e novelas?
Resposta:
Sim, porque nessa época estava bem na indústria, tinha um padrão e trabalhar como ator só, seja em teatro ou televisão, se você não for um nome, que pode pedir salários altos, se você for como eu, um trabalhador do teatro e não um ator de carreira, você não sabe o que vai fazer no mês que vem, e não podia trocar o certo pelo incerto. Eu estava tendo a minha carreira industriária, digamos assim, tendo salário mensal fixo, mantendo aquele padrão. Até 1979, quando estava fazendo 40 anos e fui despedido da TRW, que foi meu último emprego e fui fazer a outra coisa que eu sabia fazer e fui depender do teatro. O padrão desceu de 100 para 25. Para a família foi mortal. Eu tive a sorte de ter continuado com a minha família, porque desbaratou tudo. Foi muito difícil segurar essa barra no começo. O padrão foge. Os horários passam a ser totalmente diferente. Passei a viver só à noite, porque são os eventos. Tirando os ensaios, todos os espetáculos começam às nove horas da noite. Depois que termina o espetáculo você vai jantar, ou vai a uma festa de um diretor que é interessante você ir, ou a um restaurante onde estão três ou quatro diretores ou produtores. Você passa a freqüentar esse meio interessante para você, porque você precisa ser visto, para que as pessoas não te esqueçam. E eu nunca fui de badalar desse jeito e para mim sempre foi muito difícil eu ser lembrado, porque eu não era muito visto. De qualquer forma, até hoje, já são 36 anos que estou sobrevivendo da profissão.
Pergunta:
E você conheceu a Fundação das Artes?
Resposta:
Conheci por conhecer, quando o Milton Andrade foi presidente da fundação, ou diretor-geral. Uma vez apresentei um trabalho lá, não me lembro qual era a finalidade, em que participei da apresentação. Conheci a Fundação das Artes assim, sabendo que ele trabalhava lá, que ele dirigia, alguns que se formaram lá, eu conheci no trabalho, mas fazer alguma coisa, ou ter estudado lá, nunca.
Pergunta:
Como foi esse contato com o GTC?
Resposta:
Depois de ter estreado como profissional em 1968, no final de 1969, o Antônio Petrin, que eu já conhecia através da Sônia e do pessoal todo, me chamou, me convidou a reativar o GTC. Você me ajudar a reativar o GTC? Claro. Falei que tinha meu emprego, mas ele falou que acertava os horários. Então eu fui para Santo André, para junto com ele e a Sônia Guedes, reativar o GTC. Mas estava tão mal das pernas o grupo que para a gente fazer um ensaio da peça O Noviço, foi preciso que ele conseguisse com um artista plástico, que tinha um galpão cedido pela Prefeitura, era o atelier dele, mas ele estava meio de favor lá, e ele também de favor nos cedeu um pedaço desse galpão para que nós pudéssemos ensaiar assim que terminasse o expediente dele todos os dias. Conseguimos, com a peça pronta, chamar a atenção de novo para o GTC.
Pergunta:
Quem era esse artista plástico?
Resposta:
Não lembro.
Pergunta:
Você falou em retomar o GTC. Por quê?
Resposta:
Foi o que entendi do Petrin, porque depois de Jorge Dam Dam, quando estreou o GTC, não sei o que houve, nunca perguntei, foram coisas deles, o grupo se desmanchou, ou em 1970 nós estávamos na repressão e muitos integrantes do grupo foram perseguidos, presos, a Heleni Guariba que mais chamou a atenção. Acho que foi tudo isso que fez com que eles não conseguissem fazer alguma coisa. Mas eu não entrei em detalhes. Eu queria fazer teatro e entrei em 1970 para fazer essa peça. Depois disso fiz Cidade Assassinada, onde era para fazer a inauguração do Teatro Conchita de Moraes, em Utinga e fizemos uma turnê pelas escolas todas. E nesse período nós ganhamos muito bem, porque era no sistema de cooperativa. Então, todos ganhavam bem. O Paco Sanches, além de trabalhar com a gente, fazia o contato com as escolas e fazia as vendas. Eram casas sempre cheias, com bom resultado de dinheiro e tal. Eu, ainda por cima, tinha meu emprego na indústria.
Pergunta:
Esse dinheiro dava para fazer o quê?
Resposta:
Eu consegui reformar minha casa, uma reforma que custou mais que a construção; eu comprei um carro do ano, 1970, Fuscão; e o grupo já estava de novo na ativa, a ponto do Petrin conversar com a Prefeitura de Santo André, estava em projeto a Perimetral e em conseqüência o Cine Santo André foi comprado pela Prefeitura e estava lá fechado. O Petrin conseguiu que eles fizessem uma reforma, transformassem o cinema em teatro. Construíram tudo de madeira, com uma acústica perfeita, onde nós, para estrear esse novo local, fizemos O Barbeiro de Sevilha, que foi a última peça que fiz com eles. Depois teve a construção do Teatro Municipal e foi quando levei um belo pé na bunda, porque se eu ajudei a levantar o grupo, fiz três peças com eles, até que o grupo estivesse bem visto novamente, para estrear no Teatro Municipal convidaram um diretor profissional conhecido, por nós pelo menos, o Celso Nunes, ou o Antunes, e ele escolheu o elenco e ninguém, parece, ninguém argumentou que aquele pessoal que tinha levantado o grupo de novo deveria ter uma certa preferência. Mas por outro lado tem a lógica que para uma estréia de um teatro municipal, com um diretor conhecido em São Paulo, eles quisessem trazer um elenco, ou um nome conhecido em São Paulo, no caso Cláudio Corrêa e Castro. Então, se eu fui preterido por ele, fiquei contente, mas mesmo assim mandei o Petrin e o pessoal plantar batatas. Mas isso passou e depois voltamos às boas e há pouco trabalhei com ele novamente. Não houve quebra de amizade por causa disso.
Pergunta:
(Inaudível)
Resposta:
O sucesso foi fantástico. O Paco continuou vendendo para as escolas, e também para firmas, para fazer convenções. E houve dias em que nós tínhamos de fazer um espetáculo à tarde e dois à noite, tamanha a procura e a quantidade de espetáculos vendidos que o Paco conseguia. Foi um grande sucesso e levamos para o Teatro Maria Della Costa. Houve uma publicação na Folha de São Paulo falando bem da Sílvia Borges, que ganhou um prêmio em São Paulo e dali ela ficou mais conhecida ainda. Eu era pouco conhecido e saí na fotografia.
Pergunta:
Você chegou a ganhar um prêmio?
Resposta:
Foi um elogio. O Prefeito de Santo André na ocasião, na inauguração do Teatro Conchita de Moraes, que pertencia a Santo André ainda, quis me cumprimentar pelo meu trabalho, foi lá no camarim. Não só o fato de ele querer me cumprimentar, que já era um elogio, ele ter dito que tinha assistido A Cidade Assassinada com outro elenco em São Paulo e que o meu trabalho tinha sido melhor do aquele que ele viu, eu coloquei no currículo como um elogio especial. Não houve um prêmio.
Pergunta:
Como surgiu o GTC? Qual era a estética do GTC?
Resposta:
Da mesma forma que eu não procurei saber porque eles tinham parado, eu fiquei sem saber, porque não perguntei como eles tinham surgido e qual era a idéia que eles tinham, se era alguma coisa além de só produzir teatro ou se eles estavam, pelo que percebi, não porque perguntei, se havia tanta gente que apanhou por causa da repressão, tinha gente ali querendo mexer na política do país e o teatro, como meio de comunicação, seria um dos veículos. Acredito que, quando começaram, eles tinham como objetivo, mexer nas coisas fazendo teatro. Mas, que eu tenha perguntado, ou que tenham me dito, estou mentindo se falar. Estou supondo.
Pergunta:
Você tem a informação de algum cerceamento, ou censura, opressão que eles sofreram?
Resposta:
Não nas que fiz no GTC ou nas que fiz em São Paulo. Eu ouvi histórias, mas conosco não aconteceu isso. Nunca quando eu estivesse participando.
Pergunta:
A proposta, digamos assim, foi alcançada pelo GTC? (Inaudível)
Resposta:
Foi assim, vendendo para estudantes. Eu não sei se não houvesse essa venda, para que os alunos tivessem como que a obrigação de assistir para depois fazerem trabalhos, ou havia de fato uma conversa muito boa com os professores que os convenciam que era importante para os alunos aprenderem a assistir. Não sei se não havendo essa freqüência grande de estudantes, se a freqüência de público normal teria mantido o retorno do GTC. Acredito que não. Até hoje, pela experiência que tenho nesses anos todos, toda produção que se traz para São Caetano, se não houver nomes, não põe casa. É difícil dar sucesso numa casa que não tenha nomes ou que não seja, como no caso do Trair e Coçar, quando viemos, que depois que eu saí eles vieram mais duas ou três vezes, porque essa peça marcou demais. Quando viemos da primeira vez no elenco ainda estava a Denise Fraga. Então, esses fatores fizeram com que o fluxo fosse grande. Mas, de um modo geral, não mudou. Eu acho que os freqüentadores de teatro que São Caetano tem, e que eu sei que tem, são freqüentadores do teatro de São Paulo há muito tempo, desde a época em que se queria fazer alguma coisa aqui ou em Santo André. Os freqüentadores de teatro não iam e não vão às produções que se possam fazer no lugar, em Santo André ou São Caetano. Não sei como explicar isso, mas já encontrei e já soube, nas peças que fiz em São Paulo, pessoas do ABC me cumprimentando, ou participando junto comigo de uma sessão, que aqui, quando havia a possibilidade, não iam assistir. Nós sentimos isso quando estávamos na ACASCS, quando fizemos A Turma e quando passei a profissional e se queria trazer o espetáculo para cá. Se não houvesse venda, para fechar a casa, você não punha gente na platéia.
Pergunta:
Você acha que isso é um sintoma de subúrbio, de inferioridade frente à capital?
Resposta:
Esse sintoma, se for sentido para quem faz teatro, pode até existir, mas esse sintoma é colocado por quem mora no ABC. Porque se quem mora em São Caetano não vai assistir teatro em São Caetano, vai assistir em São Paulo e não aqui, por quê? Eu não tenho essa resposta. Eu acho que, vamos supor que nós resolvemos fazer uma produção de teatro, conseguimos montar um elenco e um espetáculo, onde nós vamos estrear essa peça em São Caetano, em que teatro? Aquele grandão, Paulo Machado? Ele não tem acústica e se não tiver microfone não dá. Nós fizemos Trair e Coçar lá, mas tivemos de colocar microfones e não fica bom. A platéia que está ali do meio para trás não está vendo um bom espetáculo, está ouvindo mal, distorcido. O outro teatro que nós temos na Goiás, é pequeno. Aquele palco limita qualquer tipo de montagem que se faça. E além desses problemas técnicos, pergunto quem você vai levar para assistir? Você pode ver, aquela casa de espetáculos da Rua Manoel Coelho, onde era o Cine Lido, tentaram trazer Derci Gonçalves, Chico Anísio, desses, eu tenho notícias, que eu sei pelo Chico, que ele mandou cancelar espetáculos porque não tinha platéia. Você traz um Chico Anísio para São Caetano e ninguém vai assistir o cara, não tem platéia? Como você pode montar um grupo seu, Zé, Joaquim, Pedrinho, para montar um espetáculo A Esquina da Rua do Gasômetro, quem fez essa peça, quem é o diretor, quem é esse grupinho? Ninguém vem.
Pergunta:
Aí tem a qualidade do espetáculo. A que você deve isso, essa falta de divulgação desses dois teatros que você divulgou?
Resposta:
Esse menor, da Avenida Goiás, foi construído e servia de auditório para o ginásio Coronel Bonifácio de Carvalho. Lá eles faziam, eu já pertencia ao pessoal que fazia organização de festas e a gente apresentava shows de dia do professor, de final de ano, feitos por nós. Ele é um auditório. Quando se construiu esse grande, o Paulo Machado de Carvalho, não sei se no nome está Auditório Paulo Machado de Carvalho. Se tiver teatro, foi colocado de graça, porque não é teatro. Ele sempre foi um auditório, pelo modo como ele se apresenta, onde você precisa usar microfone. Quando você fala em teatro, você não pode imaginar o uso de microfone. Se for preciso usar microfone, existe alguma falha de acústica, da própria construção. Quando foi construído não havia quem entendesse de acústica ou que se preocupasse, para fazer com que fosse um teatro. Quando se fala em teatro, não se fala em apresentações de elenco que vai apresentar uma peça de teatro. Você fala em Teatro Municipal e você pensa em ópera. Mas não se usa microfone. Então, ali não, você tem de levar microfone. E nunca se fez mais nada depois disso.
Pergunta:
Voltando ao GTC, você saiu, mas ficou morando na região. Por que você acha que acabou o GTC?
Resposta:
O GTC nasceu, como nós falamos, com uma finalidade de se fazer teatro profissional, mas de usar o veículo para mexer com a opinião pública. Só fizeram uma peça e depois ele ficou no porão. Nós, depois comigo junto, reativamos o GTC com essas três peças. Ali eu posso dizer que o GTC estava reativado. O GTC foi chamado a inaugurar o Teatro Municipal de Santo André e quero falar sobre esse teatro também. Chamou-se uma pessoa de fora para dirigir, um elenco de fora, para fazer a estréia do Teatro Municipal de Santo André. O GTC ali está meio... O diretor profissional foi convidado para fazer a peça, então a direção era dele, a produção era da Prefeitura. O GTC já não estava mais, já não era mais o GTC produzindo, e depois disso acabou o GTC porque o que eles iam fazer depois disso? Não sei, porque se tivessem condições de fazer, tenho certeza que o Petrin tinha continuado. Voltando a falar do Teatro de Santo André, lá deve ter havido uma pessoa que entende de acústica, porque é muito bem feito. Mas não é tão bem feito, porque ali, pela concepção original, era para que houvesse três palcos. O tradicional e os dois laterais, que poderiam ser usados conforme a produção que você fizesse, desde que o brilhante cara que comprou as poltronas tivesse a noção do que estava acontecendo, para que elas tivessem a mobilidade. Como você pode usar três palcos com cadeiras fixas? Não sei se foi por falta desse conhecimento. Em princípio, nos cinco primeiros anos, não vamos usar os três palcos, então vamos colocar poltronas fixas. Mas fica uma coisa estranha você ter aqueles dois palcos e a cadeira estar pregada no chão. E outra, uma construção linda e imensa, onde você leva uma grande produção, que você não põe mais do que 420 pessoas. Um teatro municipal comportar 420 lugares é um desperdício. Essa platéia devia ter pelo menos 600, mais um balcão, que deixou de ser usado.
Pergunta:
A Prefeitura de Santo André interferia nas decisões do GTC?
Resposta:
Não digo nas decisões, mas no caso de estrear o Teatro Municipal foi um evento da Prefeitura. Não acredito que o GTC..., foi junto com o GTC, mas não partiu do GTC. O diretor foi contratado pela Prefeitura, Cláudio Corrêa e Castro, foi contratado pela Prefeitura e a produção foi feita pela Prefeitura. O Paco Sanches e o Oslei eram do GTC, mas estavam fazendo a peça como convidados, o que não quer dizer nada. Agora, o que houve depois, como eu saí e não tive mais contato com nenhum deles, eu não sei se houve alguma coisa em especial que fizesse com que eles não fizessem mais nada, que houvesse uma quebra final. Não se dizer.
Pergunta:
A gente esta encerrando e a gente gostaria de pedir uma mensagem para o entrevistado. Não tem como você cantar um pouco?
Resposta:
Não. Isso eu já não faço e para fazer coisa mal feita, prefiro não fazer.
Pergunta:
O que você gostaria de deixar registrado para as pessoas que forem assistir a isso futuramente, sobre a sua vida?
Resposta:
Os jovens que perguntam para os mais velhos, eles perguntam o que eu acho do curso que eles estão fazendo. Para quem eu posso dizer, eu digo, estudem o que vocês quiserem, mas não fiquem confiando que vocês possam galgar ou acertar a sua vida como profissional de teatro, como ator. Vou ser ator e mais nada. Se fizer isso, você pode se dar mal. O teatro, essa profissão de artista, ator e atriz no Brasil dá camisa e apartamento para um certo número. Todo o grande número, e é muito grande esse número de pessoas, formadas e que estão cada vez mais se formando para serem atores, estão aí vendo navios passarem, não têm trabalho, o que fazer. Os comerciais têm uma escolha. Tem gente que vive de fazer teste e nunca fez um comercial. Se bem que o que eles pagam é troco de café. E vai fazer teatro onde? Ultimamente só tem havido produções com duas ou três pessoas. Quando nós ficamos sabendo que vai acontecer uma estréia, até então você nem sabia que estavam ensaiando a peça. Você não ouve mais falar de uma produção com seis, nove atores, porque não se tem mais dinheiro. Ninguém tem esse dinheiro para fazer a produção. As verbas que existem à disposição são muito difíceis de conseguir, é um longo e trilhado caminho para as pessoas botarem as mãos nessas verbas. E depois de tudo isso você vai depender da bilheteria, e você, pensando bem, o preço do teatro está muito caro para o povo de um modo geral. A classe que três anos atrás podia pagar teatro, já está achando caro. Quer dizer, cada vez mais está diminuindo a freqüência do teatro por causa do preço, do custo. Eu digo que se você for contar com o que você pode ganhar sendo ator, você pode quebrar a cara. Procure sempre ter uma profissão paralela, ou principal até, em vez de ser só ator, porque eu estou sobrevivendo só como ator. Estou agora, há um mês acabei de gravar a novela e repito, como não sou..., o Renato Borba que disse que existem duas classes de atores, o ator profissional e o ator de carreira. O ator de carreira está sempre envolvido com os projetos, que não sai do meio, está sempre procurando. O profissional é aquele que é convidado a fazer um determinado papel, vai, ensaia e faz e acabou, até logo. Ele é convidado ou vai se oferecer, mas de qualquer modo está sempre fazendo um trabalho. Eu sou um ator profissional. Nunca estou envolvido em projetos e fica mais difícil ainda fazer um trabalho atrás do outro. A mensagem é essa, que se você for um pesquisador, espero que eles tenham outras profissões, porque eu acho que só o trabalho de ator, em televisão ou teatro, não dá camisa.